Se a gestante suscetível for proveniente de região de alta endemicidade, ela
deverá ter rastreamento adicional, com pesquisa de anticorpos IgM e IgG a cada dois
ou três meses, com método enzimático, para detectar uma possível infecção aguda
durante a gravidez. Na vigência de viragem sorológica, ou seja, aparecimento de an-
ticorpos IgG ou IgM (notadamente IgM), deve-se iniciar imediatamente o uso de es-
piramicina na dose de 1g (3.000.000 UI) de 8 em 8 horas, via oral. Repetir o exame
na mesma amostra de sangue em laboratório ou kit de referência padronizado. Caso
o exame tenha de ser repetido em outro laboratório, o sangue deve ser congelado
para transporte. (Os laboratórios que realizam sorologia para toxoplasmose devem
estar orientados sobre os procedimentos a serem adotados diante da detecção de an-
ticorpos IgM.) Confirmada a infecção aguda antes da 30a semana, deve-se manter a
espiramicina na dose de 1g (3.000.000 UI) de 8 em 8 horas, via oral, continuamente
até o final da gravidez. Se a infecção se der após a 30a semana, recomenda-se insti-
tuir o tratamento tríplice materno: pirimetamina, 25mg de 12 / 12 horas por via oral;
sulfadiazina, 1.500mg de 12 / 12 horas por via oral; e ácido folínico, 10mg/dia, este
imprescindível para prevenção de aplasia medular causada pela pirimetamina.
- A espiramicina não atravessa a barreira placentária, tendo efeito de impedir ou re- tardar a passagem do Toxoplasma gondii para o feto, diminuindo ou evitando o acome- timento do mesmo. Portanto, não está indicada quando há certeza ou mesmo probabili- dade muito grande de infecção fetal (como quando a gestante adquire a infecção após a 30a semana). Nesses casos, está indicado o tratamento tríplice, que atua sobre o feto.
- Se no primeiro exame solicitado na primeira consulta detecta-se anticorpos IgM, caso a gestação tenha menos de 16 semanas, deve ser feito imediatamente o teste de avidez de IgG, na mesma amostra de soro (os laboratórios devem ser instruí- dos para esse procedimento). Na presença de baixa avidez, pode-se estar diante de uma infecção aguda; a paciente deve ser chamada e o tratamento com espiramicina deve ser iniciado imediatamente. Na presença de alta avidez, deve-se considerar como diagnóstico de infecção antiga, não havendo necessidade de tratamento nem de tes- tes adicionais. É importante sempre prestar atenção para a especificação de validade dos kits, para o bom desempenho dos testes. Nos exames realizados após 16 semanas de gestação, não há necessidade do teste de avidez, pois mesmo uma avidez alta não descartaria infecção adquirida durante a gestação, embora possa ser útil para ajudar a determinar a época em que ocorreu. É importante lembrar que em algumas pessoas a avidez dos anticorpos IgG permanece baixa por mais tempo, não sendo a avidez baixa uma certeza de infecção recente.
- Observação: notificar à Vigilância Epidemiológica os casos de toxoplasmose agu- da na gestação, conforme diretrizes do Ministério da Saúde para os serviços sentinela.
Diagnóstico de infecção fetal
Na presença de infecção aguda materna, deverá ser investigada a possibilidade
de infecção fetal através da pesquisa do Toxoplasma gondii no líquido amniótico. O
melhor exame isolado para esse diagnóstico é a reação em cadeia da polimerase (PCR)
no líquido amniótico, que pode ser feita a partir da 18a semana de gestação. A PCR
comum pode ter muitos falsos positivos e falsos negativos, sendo indicada atualmente
apenas a PCR em tempo real.
Embora o exame ecográfico só diagnostique as complicações da toxoplasmose
fetal, lideradas por hidrocefalia, calcificações cerebrais, ascite fetal e alterações de eco-textura hepática e esplênica, está indicada a ecografia mensal nos casos de infecção
aguda da gestante, pois a presença de sinais anormais pode determinar a mudança do
tratamento, da espiramicina para o tratamento tríplice.
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